segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Memorial

Agora sei o quanto é dolorido o processo de criação, sofri durante todo o curso para tentar fazer de maneira satisfatória este trabalho, não está sendo fácil, mesmo porque deixei tudo pra última hora, então sei que será bem mais difícil.
Mas enfim... Sei que tenho que fazer!
Contar como me tornei professora é acreditar no acaso, claro que em algum dia sonhei com isso, como quase todas as minhas colegas de profissão, todas elas, ou melhor, a maioria delas brincavam de escolinha quando criança, mas pra mim isso nunca iria passar de brincadeira de infância. Na adolescência, época de rebeldia natural, pensei em ter várias profissões, mas não em ser professora, nesta época meu maior objetivo era ir contra tudo que meus pais dissessem que era bom. Minha mãe na melhor das intenções, me matriculou numa escola pública, que tinha a fama de ser uma das melhores de Brasília, porém sem me consultar, não quis minha opinião, achou que era melhor e pronto, aí já viu, rebeldia total com imposição, deu tudo errado.
Foi o primeiro ano de reprovação na escola, nem assistir às aulas eu me dava o trabalho, tudo que gostaria era de sair dali e para isso fazia qualquer negócio, no ano seguinte, já no finalzinho do ano letivo uma coordenadora pedagógica passou nas salas de aula para perguntar se alguém ali gostaria de fazer algum curso profissionalizante, pensei... Peraí essa é minha chance. Pela primeira vez em toda minha vida escolar criei coragem, levantei o braço e perguntei:
- Se eu quiser fazer um desses cursos vou ter que sair dessa escola?
A coordenadora, sem entender a intenção da pergunta respondeu-me que sim, que naquela escola não havia nenhum curso profissionalizante e eu teria que ir para uma outra instituição de ensino.
Corri até a secretaria e perguntei que cursos eu poderia fazer, o atendente me deu uma lista imensa de cursos, onde a maioria deles eu não tinha a menor noção do que se tratava, fiquei olhando aquela lista querendo entender alguma coisa, entendi um que era de contabilidade, também com esse nome, difícil não entender, a tradução para mim desse curso era MATEMÁTICA PURA, pensei Deus me livre! Voltei-me para o atendente da secretaria e pedi-lhe uma ajuda, perguntei qual daqueles cursos eu estudaria em menor quantidade aquela matéria que até então para mim era odiada, a tal matemática, ele não hesitou em me responder:
- Ué, você não quer matemática? Faz curso normal.
Falei, então marca meu nome nesse aí e me dá o papel que levo para minha mãe assinar. Ao retornar para a sala um dos poucos meninos que eu me dava bem na sala me perguntou o que eu estava fazendo que demorei tanto tempo fora da sala, respondi com jeito de quem está segura do que fez que havia saído para escolher o curso que iria mudar minha vida. Ele então perguntou que curso era esse. Eu da mesma maneira "segura" respondi que era curso normal, o grande detalhe é que nem eu sabia que raio de curso era esse. Daí ele riu e me disse, parabéns titia Tereza, eu sem entender dei um sorriso de canto de boca e concluí com aquela expressão que não podia faltar, hã? Ele me fixou os olhos e disse, você não sabe? Você vai ser professora.
Naquela hora pensei: " O que eu fui inventar?" Mas ao mesmo tempo percebi onde estava, na tal escola detestável, vi que essa agora era a minha única maneira de sair de lá. Naquela época para entrar na escola normal tínhamos que fazer um prova de seleção, peguei então o conteúdo e debrucei em cima de todos os livros que tinha o que me interessava, minha mãe assustou em me ver depois do ano todo de brincadeiras na escola e reclamações, estudando daquela maneira, quase não dormia. Até o dia em que passei na prova ela não sabia, pois até assinar no lugar dela, eu assinei. Fiz a prova e passei.
Dei a notícia para minha mãe, que pra minha surpresa ficou toda orgulhosa da minha decisão, me deu todo apoio.
Ano seguinte, primeiro dia de aula na Escola Normal, assisti às aulas até meio dia, com toda empolgação, peguei meus cadernos e livros e me arrumava para ir embora quando o único garoto que havia na escola inteira me viu saindo e me perguntou:
- Ei, pra onde você vai?
Respondi, cheia de razão:
- Pra minha casa.
Ele me olhou, riu e disse:
- Você só pode ser novata mesmo, tenho uma notícia para te dar, aqui você estuda o dia inteiro, esse horário é só intervalo, você vai voltar uma e meia e só vai sair ás dezoito horas.
Naquela hora quase caí pra trás, achei que minha vida tinha acabado, quase entrei em desespero, mas respirei fundo e lembrei que aquele havia sido o primeiro passo na minha vida que tinha dado sozinha, não podia deixar meus pais perceberem que tinha me arrependido. Continuei então o curso até o fim, lembro-me que neste curso apaixonei-me por matemática, pois lá havia uma professora chamada Maria Eunice
que gostava tanto do que fazia que repassava esse amor pra gente, mas no fundo eu pensava que quando terminasse o curso faria qualquer coisa na vida, menos dar aula.
No ano de 1999 me formei no magistério. No mesmo ano meu pai havia ficado desempregado e passávamos por sérias dificuldades financeiras em casa, fui trabalhar em loja pois lá ganhava-se mais do que se eu fosse professora, bem mais, diga-se de passagem, surgiu em 2003 o concurso para a Secretaria de Educação, estudei, fiz a prova e passei, fui bem colocada, mas só fui convocada em 2007 no último dia de validade do concurso, acredito que por motivos políticos. Achei que era só tomar posse entrar em sala e fazer qualquer coisa para ocupar o tempo, mas mesmo assim me senti extremamente insegura, achei um absurdo essa situação, porque entre ter me formado e tomar posse passaram 8 anos e durante esse tempo eu não fiz nenhum curso, nada e simplesmente me jogaram dentro de sala de aula, achava que antes de tomar posse haveria algum "treinamento" ou coisa parecida, mas não houve nada, apenas 36 alunos, um inclusive com hiperatividade e eu.
Sofri aquele ano para aprender, mas tenho consciência que fiz o melhor que podia e acho que alcancei meus objetivos. Este ano estou bem mais tranquila, passo todos os dias por grandes dificuldades, mas Deus é tão perfeito em minha vida que me colocou em um grupo experiente e unido que tem me ajudado muito,e sei que todo dia é um aprendizado, aliás tenho certeza que se estou onde estou é porque Deus quer isso pra mim, e hoje estou muito feliz em ter me tornado PROFESSORA e tenho um orgulho imenso em dizer qual é o meu trabalho, que tornou-se meu maior motivo de estar viva.

Um comentário:

sadrianna disse...

Nossa!Que memorial interessante!Sua história transmite sinceridade e emoção.Parabéns!
Adriana.